Que mal tem... você ter jurado um dia que quando tivesse todo o conhecimento recebido na escola da vida ou nos bancos escolares retribuiria aos necessitados, por meio de um trabalho voluntário, estendendo a mão para alguém subir uma escada ou atravessar a rua?
Que mal tem sair de casa nos fins de semana para fazer o bem, nem que para isso, tenha que sacrificar o convívio familiar? Falo isso por milhares de profissionais que com seu trabalho voluntário e silencioso ajudam a tornar cada vez mais digna a vida das pessoas, entre elas, os enfermos sem as mínimas condições de ir até um posto de saúde ou esperar na fila por um atendimento que pode demorar meses ou chegar tarde demais.
Digo isso para justificar aos milhares de amigos que nas últimas semanas me procuraram, telefonaram, enviaram mensagens pelas redes sociais, alertados por noticias de que um médico que ajuda as pessoas dentro ou fora dos hospitais ou postos de saúde, estava sendo processado judicialmente, acusado de atender irregularmente os necessitados, consultando em Associações de Bairros, Creches Comunitárias, ou indo ao encontro de pessoas sem condições de levantar da cama muito menos sair para a rua à procura de ajuda médica.
Digo isso para justificar que considero um erro uma Secretaria Municipal e o seu Conselho de Saúde denunciarem alguém que se dispõe a prestar o serviço de atendimento aonde a saúde pública não se faz presente que são os bairros e vilas mais retirados do centro da cidade.
Agiram de forma tendenciosa no sentido de impedir que se leve o atendimento aos excluídos, talvez pelo ímpeto de apoiar a importação de médicos para atendimento à saúde básica, evitando assim que alguém mostre, na prática que é possível difundir este modelo com o que se tem em casa. O temor leva a atitudes precipitadas.
Nunca recebi tanto apoio individual, de comunidades, de formadores de opinião e de colegas de medicina, fortalecendo a idéia de que levar ajuda às comunidades carentes não é um ato de desobediência ou contravenção, mas um gesto de carinho e fraternidade. Infelizmente, os gestores da saúde pública que deveriam dar o exemplo, ficam isolados em seus confortáveis gabinetes não demonstrando o mínimo interesse em ouvir as comunidades.
Parafraseando Galeano, “Na guerra entre a teoria e a prática no atendimento à saúde, o povo é quem conta os mortos”. E eu como vitima e no processo deixo aqui uma pergunta: Que mal tem fazer o bem de alguém?